segunda-feira, 29 de junho de 2009

A AÇÃO INTEGRALISTA BRASILEIRA EM SERGIPE - PARTE I

Publicada: 20/11/2008 no Jornal da Cidade
Texto: Ademir da Costa (Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Sergipe. Licenciado em História (UFS) e mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (2003)


O Integralismo, movimento ideológico de tendência fascista, foi um dos mais significativos movimentos de massa ocorrido no Brasil nos anos 30. Alicerçado no pensamento autoritário brasileiro, o movimento foi lançado em 1932 por Plínio Salgado, com a publicação do “Manifesto de Outubro”. O Manifesto à nação oferecia ao povo brasileiro propostas de renovação nacional e o início de uma intensa pregação nacionalista, patriótica e cristã contra o Liberalismo e o Comunismo, responsáveis por todos os males do mundo moderno. A Ação Integralista Brasileira conseguiu estruturar-se com grande repercussão através de estratégias políticas dos simpatizantes do Fascismo no Brasil. Os movimentos fascistas europeus dos anos que antecederam a Segunda Grande Guerra Mundial transformaram a face da Europa e do mundo. O movimento tipo Fascista, em linhas gerais, não foi um fenômeno tipicamente europeu, apresentou variantes e teve repercussão em diversas partes do mundo, observando as particularidades de cada lugar.
Independente das especificidades verificadas no interior do movimento, a Ação Integralista Brasileira congregou em torno do seu ideário vários intelectuais, expandindo-se por todo o país, montando uma estrutura organizacional com base em mitos e símbolos claramente de inspirações fascistas. No contexto dos anos 30, a expansão da AIB se deu de forma diferenciada em cada Estado. De certo modo, o Integralismo ofereceu um espaço para manifestações de pessoas insatisfeitas, como para aquelas que estiveram ligadas às oligarquias e que se sentiram desalojadas do poder e abriu espaço também para inúmeros grupos de católicos tradicionais, empenhados em combater tanto o Liberalismo quanto o Socialismo.
A expansão do movimento Integralista deve-se em parte, ao apoio da Igreja Católica, a participação de intelectuais e práticas pedagógicas. O movimento apresentou uma série de especificidades. Essas especificidades descritivas como concepção de autoridade, rituais e a ideologia do movimento foram evidenciadas em parte, através de uma proposta pedagógica. O caráter doutrinador do movimento se configurou com a consolidação dos mitos e símbolos que fortaleceram o imaginário Integralista.
Os símbolos e ritos, estratégias de padronização e unificação do Integralismo, responsáveis por criar, junto aos militantes, a mística do movimento, constituíam-se também em eficiente estratégia de arregimentação de novos adeptos. Desempenhavam, portanto, no interior da A.I.B., uma dupla função: unificavam e arregimentavam. O Integralista, desde o nascimento até a morte, era controlado por essa ‘legislação’ especial. Além das regras de conduta, do juramento solene e das festas Integralistas, existiam normas específicas para batizados, casamentos e falecimento.
As concentrações Integralistas, em algumas cidades foram impressionantes, chegando a concentrar mais de 40 mil pessoas nas ruas em desfiles militares. Com o propósito de efetivar a propagação do ideário foram construídas, nas cidades onde haviam núcleos provinciais, várias escolas de alfabetização e vários núcleos da Juventude Integralista.
O Integralismo surge em meio à efervescência do projeto de consolidação da sociedade burguesa, logo após o triunfo da Revolução de 1930. A pretensão das elites em estabelecer um Estado forte encontrou respaldo na intelectualidade. No interior desse projeto de construção nacional capitaneado pela classe dominante, os intelectuais se inseriram a uma estrutura capaz de garantir e assegurar essa unidade.
Os anos 20 fomentam a afirmação de uma geração de intelectuais comprometidos com propostas reformistas encontrando ressonância nos anos pós-30. A intelectualidade, a partir de então, define sua postura nos movimentos que vão marcar os anos 20, sobretudo, nos debates que permeariam o centro da questão política. Na direção de movimentos nacionalistas e católicos polarizando com as várias forças políticas e ideológicas, o projeto de modernidade preconizado pela intelectualidade convergia para o plano político-cultural. Vários intelectuais, a partir dos anos 30, evidenciavam sua participação direta na estruturação do regime, como ocorreu com o Movimento Integralista liderado por Plínio Salgado. O enfoque nacionalista foi a condição essencial para o discurso da intelectualidade absorver o ideário Integralista, bem como, fornecer as condições de formação de um movimento centrado no modelo Mussuliniano e no corporativismo português. Em Sergipe, por iniciativa do jornalista Omer Mont’Alegre foi criado, em janeiro de 1935, o Centro de Estudos Plínio Salgado, composto por membros Integralistas, cuja finalidade era analisar os problemas sociais contemporâneos e sua relação deste com os séculos passados. A fundamentação básica partia da análise das obras de Alberto Torres, fiel e legítimo representante do pensamento autoritário. Ex-presidente do Estado do Rio de Janeiro e membro do Supremo Tribunal, Torres é autor de um conjunto de obras que enfatiza, no seu todo uma preocupação em conclamar a intelectualidade no projeto de construção nacional.
Omer Mont’Alegre conduziu a propagação do ideário Integralista em Sergipe com maestria e firmeza, na condição de jornalista, principalmente, pelo jornal “O Sigma”, do qual era redator. Coordenava a forma de reação aos constantes ataques dos arquiinimigos declarados como a Liga Antifascista e a Aliança Proletária de Sergipe. O Integralismo floresce em Sergipe nos centros cívicos dos colégios Atheneu Sergipense e Salesiano, por intermédio de um grupo de jovens idealistas, todos em torno do combate, sobretudo, à liberal-democracia. Essa plêiade de futuros intelectuais sergipanos abraçou as idéias Integralistas, na sua maior parte, logo após a instalação do Núcleo Provincial em Sergipe.
Levados por um idealismo acentuado nos domínios político e cultural, proveniente em sua maioria, de antigas famílias oligárquicas e latifundiárias do interior do Estado, preconizavam a revitalização dos valores culturais brasileiros e a necessidade de uma nova ordem, capaz de garantir os mecanismos para a construção da identidade nacional, ameaçada pelos desmantelos da liberal-democracia e pelo avanço das idéias comunistas. Nesse contexto, o Movimento Tenentista e a Revolução de 1930, acentuavam os objetivos de afirmação das classes médias urbanas em detrimento das oligarquias. Como em todo o Brasil, independentes dos movimentos culturais e religiosos, os intelectuais tradicionais buscavam uma consolidação como legítimos representantes daquela classe política ameaçada.
Os intelectuais autoritários, como Plínio Salgado e Oliveira Viana estiveram à frente do projeto de construção nacional. O primeiro, afirmava que “o papel do intelectual é efetuar um trabalho de evangelização, inculcando no povo um sentimento de resistência nacional”. O segundo era, nesse aspecto, ainda mais elitista, afirmando que no momento “bastaria apenas ensinar as massas a ler, escrever e contar”.
Partindo desse pressuposto, a nova geração de intelectuais sergipanos, adeptos do Integralismo, da qual faziam parte Manuel Cabral Machado, José Amado Nascimento, Clodoaldo Alencar, Santos Mendonça, José Calazans, os quais galgaram posição de status na sociedade, propagaram o Movimento Integralista no eixo Sergipe/Bahia. Posteriores aos antigos fundadores do Integralismo – Omer Mont’Alegre, Agnaldo Celestino, Jacinto Figueiredo, Ávila Lima e Passos Cabral – os intelectuais dessa geração, imbuídos de uma tarefa política respaldada no positivismo e independentes do seu local de atuação, ajudaram a consolidar o Núcleo Integralista de Sergipe, com exceção de Dr. Manoel Cabral Machado, Seixas Dórea e José Calazans que atuaram de forma marcante no Núcleo da Bahia, logo após o florescimento do movimento em Sergipe. (Continua)

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